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Foto do escritorEstudos Bíblicos e Persas

Zoroastro, o primeiro grande profeta?


O nome Zoroastro é uma forma que nos chegou da língua grega (Zoroastres) para se referir a Zarathustra, tradicionalmente considerado o fundador do Zoroastrismo, religião assim nomeada em homenagem a ele, que a teria recebido do próprio deus Ahura Mazdā.


Quando e onde viveu Zoroastro são questões incertas. Acadêmicos como Mary Boyce (1975) e Norman Cohn (2001) dataram Zoroastro entre 1.500 e 1.200 a.C., um período bastante recuado no tempo se comparado a profetas hebreus e outras personalidades que deram origem a grandes religiões como Jesus e Maomé. Há uma tradição zoroástrica segundo a qual Zoroastro teria vivido 258 anos antes de Alexandre, o Grande, o que o colocaria no século VI a.C., datação aceita por alguns estudiosos (COHN, 2001, p.77). No entanto, com as evidências que dispomos, ainda é difícil estabelecer uma datação acurada ou mesmo comprovar sua existência histórica. As localidades mais comumente sugeridas para a atividade religiosa de Zoroastro e sua terra natal são o sul dos Montes Urais, atualmente norte do Cazaquistão, no extremo oriente do que hoje é o Irã ou na parte ocidental do atual Afeganistão (COHN, 2001, p.77).


Segundo a tradição das fontes persas, Zoroastro pertencia à família Spitaman, o nome de seu pai era Pourušaspa e de sua mãe Dughdhōvā. Apesar da ausência de informações sobre os ofícios de seus pais, é provável que Zoroastro tenha recebido desde a infância formação e treinamento para o sacerdócio (BOYCE, 1975, p.183).


O encontro entre Zoroastro e Ahura Mazdā, o “Senhor Sábio”, teria ocorrido nos seus 30 anos de idade, marcando as ocasiões das experiências espirituais onde recebeu a religião (dēn ī ohrmazd). Nos Gathas, textos que estão entre as escrituras sagradas do Zoroastrismo, Zoroastro refere-se a si mesmo como sacerdote (zaotā) e profeta, aquele que conversa com um ser divino e comunica as revelações aos homens, experiência representada na literatura persa no estilo ham-pursagīh, de perguntas do profeta e respostas de Ahura Mazdā (HINTZE, 2012, p.44-49). A autoria dos Gathas é naturalmente alvo de controvérsias acadêmicas, alguns estudiosos argumentam pela possibilidade de autoria do próprio Zoroastro, outros defendem que diversos autores contribuíram para as composições.


Zoroastro enfrentou a oposição daqueles que eram contra o estabelecimento de uma nova fé. De acordo com a tradição, após pregar por dez anos sem êxito algum, tendo convertido apenas um tio que lhe deu ouvidos, o profeta deixou sua terra natal. Em sua missão num novo lugar, Zoroastro conseguiu converter a rainha Hutaosā, provavelmente a responsável por trazer à nova religião também o rei, Kavi Vīštāspa, que se tornou patrono do profeta e lutou pelo Zoroastrismo (BOYCE, 1975, p.187-188).


O profeta, considerado o “primeiro apocalíptico”, é apontado como responsável por desenvolver uma visão de mundo milenarista, que contempla uma eternidade passada e a que virá, o conflito cósmico entre o bem e o mal, a vinda de um salvador (Saošyant), o julgamento final e a renovação da criação (BOYCE, 1984, p.57-75). Apesar das dificuldades de datar o ideário do Zoroastrismo, é comum entre os pesquisadores o argumento de que este conjunto de ideias foi bastante influente na antiguidade, principalmente em contato com o Judaísmo.



Referências bibliográficas


BOYCE, Mary. A History of Zoroastrianism. Vol. 1. The Early Period. Handbuch der Orientalistik. Erste Abt.: Der Nahe und der Mittlere Osten. Achter Bd.: Religion. Erster Abschnitt: Religionsgeschichte des Alten Orients, Lief. 2, Ht. 2A. Leiden, Köln: E. J. Brill, 1975.


BOYCE, Mary. On the Antiquity of Zoroastrian Apocalyptic. In: Bulletin of School of Oriental and African Studies, 47, p. 57-75, 1984.


COHN, Norman. Cosmos, Chaos, and the World to come: The Ancient Roots of Apocalyptic Faith. New Haven: Yale University Press, 2001.


HINTZE, Almut. On the Prophetic and Priestly Authority of Zarathustra. In: CHOKSY, J; DUBEANSKY, J. (eds.), Gifts to a Magus: Indo-Iranian Studies Honoring Firoze Kotwal. New York: Peter Lang, p. 43–58, 2012.


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